terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Mea Culpa


Gotas pesadas e gordas se esborracham no vidro do carro. Chegam em cadência, pulsam no peito que ecoa pelos membros e lateja sobre as vestes.
Ilumina-se o céu, sucede-lhe um clarão e logo ronca a besta que parece viver no meu estômago (indesejada vizinha de mim que só me revisita sempre que a não quero receber).
Recosto-me no banco... as fibras rangem, queixam-se de me sustentar. As pálpebras descem suavemente, como que me envolvem em concha suavemente no seu regaço.
Cada sopro que me mantém atiça fogueiras que só pareço acalentar.
Hoje existo tanto, que nem me importava de mim, só um tanto (parco intento) só um pouco me esquecer.
O vento clama lá fora, varre as copas e geme... o que me parece uma canção de ninar. No seu berço se arrasta uma folha.
Tolhida pela noite
Colhida pelo vento
Sacudida pelos canteiros
Indigente, segue trôpega, falhando lances de calçada por onde ainda se debate.
Moribunda já nem se detém.
Que mais se lhe resta,
senão um vintém.

2 comentários:

Unknown disse...

Nice...
Gostei Sorriso...
Continua por favor
Beijos grandes de saudade

David Martinho disse...

Não porque o prometido é devido, mas porque tenho todo o gosto e prazer em comentar a tua arte, aqui vai:

Mais uma maravilhosa combinação de palavras =D Se um dia fizeres uma colectânea destes textos num livro, quero comprá-lo e assinado com uma dedicatória de igual qualidade aos versos que colecciona. Embora apenas conheça este teu lado poético, devo dizer que é um prazer conhecer-te: dá gosto ler os teus "pensamentos" ;)

Desejo-te um Feliz Ano Novo, que o novo ano te traga tudo o que desejares e traga a nós, seguidores da tua arte, mais textos como este.

Beijinhos, David