
Gotas pesadas e gordas se esborracham no vidro do carro. Chegam em cadência, pulsam no peito que ecoa pelos membros e lateja sobre as vestes.
Ilumina-se o céu, sucede-lhe um clarão e logo ronca a besta que parece viver no meu estômago (indesejada vizinha de mim que só me revisita sempre que a não quero receber).
Recosto-me no banco... as fibras rangem, queixam-se de me sustentar. As pálpebras descem suavemente, como que me envolvem em concha suavemente no seu regaço.
Cada sopro que me mantém atiça fogueiras que só pareço acalentar.
Hoje existo tanto, que nem me importava de mim, só um tanto (parco intento) só um pouco me esquecer.
O vento clama lá fora, varre as copas e geme... o que me parece uma canção de ninar. No seu berço se arrasta uma folha.
Tolhida pela noite
Colhida pelo vento
Sacudida pelos canteiros
Indigente, segue trôpega, falhando lances de calçada por onde ainda se debate.
Moribunda já nem se detém.
Que mais se lhe resta,
senão um vintém.