domingo, 17 de janeiro de 2010

katálogos



Gosto das coisas desarrumadas.
Porque não melhor se percebe o caos?
Para que servem as coisas que se adivinham?
Uma prenuncia a próxima, que denuncia a que a sucede, que por sua vez precede a que vem a seguir e que já se sabe que chega mesmo que não se faça anunciar.
Perder-se-ia o espanto de ter por que espiar.
Condenado ficaria o êxtase de não se perceber o que veio sem pedir, e, sem pesar ou expiação, bradar que nem sequer se sabe o que fazer com ele.
Gosto das coisas espalhadas, para que saibam que lhes procuro um lugar, que as preciso e me precisam a mim.
Em cada uma que tropeço me espalho num acaso que surpreende aquilo que é, eterniza tudo o que já foi e dá cabo de tudo o que ainda está para vir.

3 comentários:

Unknown disse...

Gosto das coisas desarrumadas. è sempre bom quando ao arrumá-las nos deparamos com agradaveis surpresas...
Gosto de ter saudades tuas :-)
Beijo...

David Martinho disse...

As coisas não estão nunca desarrumadas. Apenas existem diferentes critérios de arrumação para as pessoas. Há quem diga até que a arrumação define a forma como se pensa e se "arrumam" as ideias. O que está arrumado segundo um critério está desarrumado segundo outro qualquer. Afinal quem decide qual é o lugar de cada coisa? Quantas vezes já procuraste por algo no sitio certo (onde o tinhas colocado) mas que por alguém o achar "desarrumado" o "arrumou" e acabaste por não o encontrar? O "arrumado" não é nada mais nada menos que uma função definida pelo cérebro humano cujo argumento é o algo e a imagem é a sua localização. Se sabes onde está algo, é porque o arrumaste. Ser arrumado é para pessoas com pouca capacidade de memória: mais lhe vale decorar uma simples regra e seguir a lógica, do que lembrar para cada objecto o último local onde foi encontrado.
=D

Está muito bom o texto :)

Beijinhos **

Professora Leonor disse...

Identifico-me totalmente com isso...afinal é na desarumação que encontramos a nossa verdadeira arrumaçção...muito propria